Chagas Benditas

quarta-feira, 28 de março de 2012 Diego Tales

Nada ficou por tentar: nem milagres, nem obras, nem palavras, em tom severo umas vezes, indulgente outras... Jesus tentou tudo com todos: na cidade e no campo, com pessoas simples e com sábios, na Galiléia e na Judéia... como também na nossa vida nada ficou por tentar, remédio algum por oferecer. Tantas vezes Jesus saiu ao nosso encontro, tantas graças ordinárias e extraordinárias derramou sobre a nossa vida! “De certo modo o próprio Filho de Deus se uniu a cada homem pela sua Encarnação.

Trabalhou com mãos humanas, pensou com mente humana, amou com coração de homem. Fez-se verdadeiramente um de nós, igual a nós em tudo menos no pecado. Cordeiro inocente, mereceu-nos a vida derramando livremente o seu sangue, e nele  o próprio Deus nos reconciliou consigo e entre nós mesmos e nos arrancou da escravidão do demônio e do pecado, e assim cada um de nós pode dizer com o Apóstolo: “ O Filho de Deus amou-me e entregou-se por mim" (Gál. 2,20).
A história de cada homem é a história da contínua solicitude de Deus para com ele. Cada homem é objeto da predileção do Senhor. Jesus tentou tudo com Jerusalém, e a cidade não quis abrir as portas à misericórdia. é o profundo mistério da liberdade humana, quem tem a triste possibilidade de rejeitar a graça divina.
Homem livre, sujeita-te a uma voluntária servidão, para que Jesus não tenha que dizer por tua causa aquilo que contam ter dito, por causa de outros, e pela vida ainda tão “relaxada”  de Madre Teresa de Jesus:  “Teresa, Eu quis...  mas os homens não quiseram”.
Santa Teresa de Jesus no seu livro da Vida (capítulo 8 e 9), conta-nos de que modo o Senhor começou a despertar a sua alma, dando-lhe luz em tão grandes trevas, e a fortalecendo nas virtudes para não ofendê-lo; escreve:  “Eu desejava viver, pois bem entendia que não vivia, combatendo, em vez disso, uma sombra da morte, sem que ninguém me desse vida e sem poder consegui-la eu mesma; e quem podia dá-la a mim tinha razão para não socorrer-me; pois tantas vezes me chamara a Si e outras tantas fora abandonado. (Livro da vida – Cap. 8,12)
“...A minha alma já estava cansada e, embora quisesse, seus maus costumes não a deixavam descansar. Aconteceu-me de, entrando um dia no oratório, ver uma imagem guardada ali para certa festa a ser celebrada no Mosteiro. Era um Cristo com grandes chagas que inspirava tamanha devoção que eu, de vê-lo, fiquei perturbada, visto que ela representava bem o que Ele passou por nós. Esta imagem, que não representa, como disseram alguns, Jesus preso à coluna, mas um tristíssimo e terno Eccehomo – “Eis o Homem” – ainda é venerada no Mosteiro da Encarnação de Ávila.

Foi tão grande o meu sentimento por ter sido tão mal-agradecida àquelas chagas que meu coração quase se partiu; lancei-me a seus pés, derramando muitas lágrimas e suplicando-lhe que me fortalecesse de uma vez para que eu não O ofendesse.” (Livro da vida – Cap. 9,1) .
“Ele é as Chagas de minhas chagas burulentas, que se tornaram Chagas Benditas, que me curam e me traz salvação!”
Nossas chagas... em seu corpo Santo...
“O amor e a dor são a mesma coisa.”

“Meu Jesus, sofreste por mim porque me amaste, e me amaste porque sofreste por mim. Amaste-me gratuitamente. Teu amor não tinha nenhuma utilidade, nenhuma finalidade. Não sofreste para me redimir, mas para me amar e por me amar.
Não tens outras razões a não ser as do amor; a razão da sem-razão do amor chama-se gratuidade.

Levaste-me, pelos tempos eternos, como um sonho dourado. Mas, quando chegou a “Hora”, todos os sonhos se desvaneceram e me amaste com a objetividade de uns cravos pretos e umas gotas rubras de sangue. Onde há amor não há dor. Concebeste-me no amor, em uma eternidade, e me deste à luz na dor, em uma tarde escura. Desde sempre e para sempre, amaste-me gratuitamente” (São Francisco – O Irmão de Assis p. 335-336).

Depois de uma noite de dor, de escárnios e de desprezos, Jesus debilitado pelo terrível tormento da flagelação, é conduzido para ser crucificado. Chagas de Minhas chagas...
No caminho para o Calvário – o lugar da caveira – antes da vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo era uma pedreira, depois se tornou lugar de lixo. Era fora da cidade, próximo dos muros, mas fora da cidade, um lugar de podridão, lugar da caveira, onde havia ossos, restos mortais, enfim moscas, abutres, ratos, um lixão!
Tornaste-te meu Jesus, rei, Chagas das minhas chagas... Não podemos ficar na superfície do mal, temos que chegar à sua raiz, às causas, à mais profunda verdade da consciência... Chagas das minhas chagas.

A união íntima de cada cristão com o seu Senhor necessita do conhecimento completo da sua vida, incluíndo o capítulo da Cruz. Aqui se consuma a nossa Redenção, aqui a dor do mundo encontra o seu sentido, aqui conhecemos um pouco a malícia do pecado e o amor de Deus por cada um dos homens. Não permaneçamos indiferentes diante do Homem das dores – o Crucificado.
Não era preciso tanto tormento. Mas quis sofrer tudo isso, por ti, por mim, por nós todos, pela humanidade.
E nós não havemos de saber corresponder?
Simão de Cirene, que voltava para casa, é forçado a ajudar a carregar a cruz.

Simão segurou a cruz pela extremidade e colocou-a sobre os seus ombros. A outra, a mais pesada, a do amor não correspondido, a dos pecados de cada homem, essa, Cristo a levou sozinho.
Na marcha para o Calvário, o caminho é sinuoso e o chão irregular, suas energias diminuem cada vez mais, e não é de se estranhar. Cai, e mal consegue levantar-se. Poucos metros adiante, torna a cair. Uma, duas, três. Ao levantar-se, quer dizer-nos o quanto nos ama; ao cair, quer manifestar a grande necessidade que sente de que o amemos.

Jesus quis submeter-se por amor, com plena consciência, inteira liberdade e coração sensível. Ninguém morreu como Jesus Cristo, porque ele era a própria Vida. Ninguém expiou o pecado como Ele, porque era a própria Pureza. Nós recebemos agora copiosamente os frutos daquele amor de Jesus na cruz. Só o nosso “não querer” pode tornar vã a Paixão de Cristo.
Foi no Filho que se manifestou o amor incondicional do Pai por nós.

Há homens para os quais o Deus da santidade permanece distante: os pretensos justos, os quais, em nome de Deus, rejeitam seus irmãos pecadores. Assim, pecam contra o Espírito, porque recusam a santidade perdoante.
Mas é pela Cruz de Cristo que o Pai revela sua santidade. Foi na Paixão do Filho que se manifestou o sofrimento de Deus pela maior miséria humana, que é o pecador.

Não devemos esquecer nem por um só dia que Jesus está nos nossos sacrários, vivo!, mas tão indefeso como na Cruz ou como depois no sepulcro. Cristo entrega-se à sua Igreja e a cada cristão para que o fogo do nosso amor o atenda e cuide melhor maneira que possamos, e para que a nossa vida limpa o envolva como lençol comprado por José de Arimatéia. Mas, além dessas manifestações do nosso tempo, do nosso esforço, dos nossos tratos de amor, não regateando outras provas de amor, nos perguntar como Santo Agostinho: Por que tanto padecimento? E responder: “Tudo o que Ele padeceu é o preço do nosso resgate. Não se contentou em sofrer alguma coisa: quis esgotar o cálice para que compreendêssemos a grandeza do seu amor e a baixeza do pecado; para que fôssemos generosos na entrega, na mortificação, no espírito de serviço.

Que como Francisco de Assis queiramos retribuir amor: “...quero ser” Tu, Jesus, solta tua torrente de amor pela torrente de meu sangue. Faz de minha carne uma pira de dor, e de meu espírito, uma fogueira de amor.
Jesus crucificado, eu gostaria de subir na cruz, arrancar-te os cravos, fazer-te descer, subir eu mesmo e ficar aí, substituindo-te, nem que fosse por um minuto.

...Quisera incendiar-me nesta noite, na fogueira da dor, “de vossa terrível dor”, para que sobre apenas o amor. Depois disso tudo, pode acabar, porque já teremos chegado ao pico da Ressurreição.”

Carreguemos a nossa paixão, cruz e nossa morte carregando-a do modo de Jesus, que se abraça à Cruz salvadora e nos ensina como devemos carregar a nossa – com amor, corredimindo com Ele todas as almas, reparando pelos pecados próprios. O Senhor deu um sentido profundo à dor. Podendo redimir-nos de muitas maneiras, fê-lo através do sofrimento, porque ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos. (Cfr. Jo. 15,13).

Ama o sacrifício, que é fonte de vida interior. Ama a cruz, que é o altar do sacrifício. Ama a dor, até beberes, como Cristo, o cálice até às fezes.
“ó doce fonte de amor! Faz-me sentir a tua dor para que chores contigo. Faz-me chorar contigo e doer-me deveras das tuas penas enquanto vivo; porque desejo acompanhar-te e unir-me ao teu coração compassivo na cruz em que te vejo. Faz com que a tua cruz me enamore e que nela viva e habite...” (Hino Stabat Mater).

“Oh! Chagas das minhas chagas, que se tornaram Chagas Benditas que me curam e me salvam!”

Quero que saibas:
“Se em tua Paixão não houver frutos, valeu a beleza das flores;
Se não houver flores, valeu a sombra das folhas;
Se não houve folhas, valeu a intenção da semente lançada na Terra.”+

Padre Emílio Carlos
Fundador da Comunidade Alpha e Ômega

Pentecostes: é tempo de começar a preparação!

sexta-feira, 23 de março de 2012 Diego Tales

No dia 27 de maio deste ano, acontece a celebração litúrgica de Pentecostes. Nesse dia, lembramos a primeira grande efusão do Espírito Santo sobre a Igreja, que impeliu os apóstolos à missão.
Instituída pelo papa Leão XIII, a Novena de Pentecostes é a única litúrgico-oficial da Igreja Católica. Caso seu Grupo de Oração deseje realizar a novena semanalmente, o ideal é iniciar na próxima semana. Dessa forma, ela será finalizada exatamente nos dias que antecedem a festa.
Abaixo, confira o texto de motivação escrito pela segunda secretária do Conselho Nacional da RCCBRASIL, Ierecê Gilberto:
Amados, tal qual os apóstolos no Cenáculo desejavam ardentemente uma vida nova e o cumprimento da Promessa do Pai, também cada um de nós hoje deve ter o mesmo desejo. O Espírito Santo derramado em Pentecostes sobre os apóstolos reunidos unânimes em oração é exatamente o mesmo que se derrama hoje sobre nós e que Deus Pai deseja enviar abundantemente sobre o mundo todo em nossos dias, gerando assim homens novos e mulheres novas que voltem a viver a Cultura de Pentecostes.
Que tal colocarmos em prática este ano, que é único em nossas vidas - pois não podemos voltar aos anos passados e tão pouco vivermos os que ainda não vieram - a Novena de Pentecostes em nosso Grupo de Oração? Temos Grupos de Oração todos os dias da semana no Brasil; podemos ter pessoas clamando pelo Espírito Santo diariamente, desejando que Ele venha sobre a face da Terra renovar todas as coisas.
Já que nossos Grupos de Oração se reúnem apenas uma vez por semana, a fim de que todos possam participar da Novena, sugerimos que façamos, em nível de GO, nove semanas consecutivas e não nove dias seguidos. Assim, todos os GO do Brasil estariam realizando a Novena de Pentecostes, unanimemente no Brasil. Para isto, devemos iniciar já no dia 25 de março para os GO que se reúnem aos domingos, seguindo até o dia 27 de maio, domingo de Pentecostes.
Podemos fazer também a novena em 9 dias seguidos, iniciando no domingo (ou na quinta-feira) da Ascensão de Jesus e seguindo até a Festa de Pentecostes. Nesse caso podemos realizar em família, nos ambientes de trabalho, nas escolas, nas universidades, nas paróquias, em grupos de reflexão, nos hospitais, nos presídios, nos asilos e até mesmo sozinhos. O fundamental é que passemos estes nove dias que antecedem a festa de Pentecostes em unânime e perseverante meditação e clamor ao Santificador das Almas para renovar a face da Terra.
Permitamos que o Espírito Santo gere em nós e a partir de nós um mundo novo, que vem do coração de Deus!

Ierecê Gilberto
Com certeza grandes graças esperam para serem derramadas sobre aqueles que orarem pela renovação do Pentecostes.

Quaresma: um caminho a se fazer em direção a Cristo.

sexta-feira, 16 de março de 2012 Diego Tales

Quaresma é um período de quarenta dias. Inicia-se na Quarta-feira de Cinzas, prolongando-se até a Quinta-feira Santa, antes da Missa na Ceia do Senhor. Trata-se de um tempo privilegiado de conversão, combate espiritual e escuta da Palavra de Deus. Na Igreja Antiga, este era o tempo no qual os catecúmenos (adultos que se preparavam para o Batismo) recebiam os últimos retoques em sua formação para a vida cristã: eles deveriam entregar-se a uma catequese mais intensa e aos exercícios de oração e penitência. Pouco a pouco, toda a comunidade cristã - isto é, os já batizados em Cristo -, começou a participar também deste clima, tanto para unir-se aos catecúmenos, como para renovar em si a graça de seu próprio batismo e o fervor da vida cristã, preparando-se, assim, para a santa Páscoa.

Assim, surgiu a Quaresma: tempo no qual os cristãos, pela purificação e a oração, buscam renovar sua conversão para celebrarem na alegria espiritual a Santa Vigília de Páscoa, na madrugada do Domingo da Ressurreição, renovando suas promessas batismais. As práticas da Quaresma A oração: Neste tempo os cristãos se dedicam mais à oração e devem acrescentar algo àquilo que já praticam durante o ano todo. Uma boa prática é rezar diariamente um salmo ou, para os mais generosos, rezar todo o saltério no decorrer dos quarenta dias. Pode-se, também, rezar a Via Sacra às sextas-feiras!

A penitência: todos os dias quaresmais (exceto os domingos!) são dias de penitência.

A primeira e indispensável penitência quaresmal é no tocante à comida e à bebida: sem renúncia a algum alimento não há prática quaresmal! Cada um deve escolher uma pequena prática penitencial para este tempo. Por exemplo: renunciar a um lanche diariamente, ou a uma sobremesa, etc... Na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa os cristãos jejuam: o jejum nos faz recordar que
somos frágeis e que a vida que temos é um dom de Deus, que deve ser vivida em união com ele. Os mais generosos podem jejuar todas as sextas-feiras da Quaresma. Farão muitíssimo bem! Recordemo-nos que às sextas-feiras os católicos não devem comer carne; e isto vale para o
ano todo! Além da penitência na alimentação é necessário escolher algo mais como mortificação, isto é, renúncia a algo de que se gosta; por exemplo: música, televisão, internet, determinado tipo de divertimento...

A esmola: Trata-se da caridade fraterna.

Este tempo santo deve abrir nosso coração para os irmãos: esmola, capacidade de ajudar, visitar os doentes, aprender a escutar os outros, reconciliar-se com alguém de quem estamos afastados - eis algumas das coisas que se pode fazer
neste sentido!

A leitura da Palavra de Deus: Este é um tempo de escuta mais atenta da Palavra: o homem não vive somente de pão, mas de toda Palavra saída da boca de Deus. Seria muitíssimo recomendável ler durante este tempo o Livro do Êxodo ou o Deuteronômio ou, no Novo Testamento, o Evangelho segundo São Marcos. A leitura deve ser seguida, do começo ao fim do livro. Pode-se terminar sempre rezando um salmo...

A conversão: “Eis o tempo da conversão!”, diz-nos a Palavra de Deus.

Que cada um veja um vício, um ponto fraco, que o afasta de Cristo, e procure lutar, combatê-lo nesta Quaresma! É o que a Tradição ascética de Igreja chama de “combate espiritual” e “luta contra os demônios”. Nossos demônios são nossos vícios, nossas más tendências, que precisam
ser combatidas. Os antigos davam o nome de sete demônios principais: a soberba, a avareza, a tristeza (hoje diz-se a inveja, que é a tristeza pelo bem do outro), a preguiça, a ira, a gula, a sensualidade. Estes demônios geram outros. Na Quaresma, é necessário identificar aqueles
que são mais fortes em nós e combatê-los! Recomendo, neste sentido, a leitura do livro “Convivendo com o mal. A luta contra os demônios no monaquismo antigo”, de Anselm Grün, Editora Vozes.

A liturgia da Quaresma

Este tempo sagrado é marcado por alguns sinais especiais nas celebrações da Igreja: A cor da liturgia é o roxo - sinal de sobriedade, penitência e conversão; não se canta o Glória nas missas
(exceto nas solenidades, quando houver); não se canta o aleluia que, sinal de alegria e júbilo, somente será cantado outra vez na Páscoa da Ressurreição; os cantos da missa devem ter uma melodia simples; não é permitido que se toque nenhum instrumento musical, a não ser para
sustentar o canto, em sinal de jejum dos nossos ouvidos, que devem ser mais atentos à Palavra de Deus; não é permitido usar flores nos altares, em sinal de despojamento e penitência (nos casamentos e outras festas as igrejas, devem ser enfeitadas com muita sobriedade!); a partir da quinta semana da Quaresma podem-se cobrir de roxo ou branco as imagens, em sinal de jejum dos sentido, sobretudo dos olhos.

O importante é que todas estas práticas nos levem a uma preparação séria e empenhada para o essencial: a Páscoa! As observâncias quaresmais não são atos folclóricos, mas instrumentos para nos fazer crescer no processo de conversão que nos leva ao conhecimento espiritual e ao amor de Cristo. Tenhamos em vista que o ponto alto do caminho quaresmal é a renovação das promessas batismais na Santa Vigília pascal e a celebração da Eucaristia de Páscoa nesta mesma
Noite Santa, virada do Sábado Santo para o Domingo da Ressurreição.

Que todos possam ter uma intensa vivência quaresmal, para celebrarmos na alegria espiritual a santa Páscoa do Senhor! 
(Fonte: Comunidade Shalom) 

A força do deserto

domingo, 11 de março de 2012 Diego Tales

Na correria da vida, fonte de stress dos tempos modernos, é fundamental tirar momentos para outras experiências. Muitos vão para as chácaras, para sítios e lugares onde possam ter mais contato com a beleza e as riquezas contidas na natureza.

No tempo de Jesus, ir para o deserto era ficar na margem da sociedade, experimentar as condições dos leprosos que não podiam ter contato com os “puros” e com quem não tinha essa doença contagiante. Constituía um verdadeiro “tabu” para o povo.
Indo para o deserto, Cristo supera o preconceito e vai ao encontro dos leprosos, que eram intocáveis. Jesus acaba ocupando o lugar desses doentes, agindo com autoridade e compaixão. Conforme a Lei, Ele não podia tocar no leproso, mas não levou em conta isto.
A intenção de Jesus era a reintegração dos marginalizados numa atitude totalmente além da compaixão, de neutralização dos mecanismos que geram a exclusão. Ele age com verdadeira solidariedade, tendo como base o amor ao próximo.
Essa prática não tinha em vista sucesso pessoal, mas o bem das pessoas, contra as atitudes de exclusão casadas pela cultura do tempo. Era Deus, em Jesus Cristo, visitando seu povo, superando as forças do mal, vistas como obra de espírito mau.
No deserto Jesus cura um leproso. Toca nele e diz: “sê purificado”. Ele dá um sinal do Reino, da vida e da qualidade de vida. O curado não esconde sua felicidade, fazendo Jesus assumir seu lugar no deserto para ficar distante do assédio do povo.

A prática de compaixão de Jesus faz crescer a oposição das autoridades religiosas, porque Ele mostra que fazer o bem é mais importante do que seguir as exigências da Lei dos judeus. Enquanto a Lei marginaliza os “impuros”, Jesus os integra na convivência social.
Vivemos sob a lei do mercado, da competição e da exclusão. Perdemos a mística da fraternidade e partilha. Só a força do deserto, da espiritualidade será capaz de fragilizar essa lei. O mundo saudável é conforme o sonho de Deus, que deve ser conquistado por nós.

Dom Paulo Mendes Peixoto
Diocese de São José do Rio Preto/SP

Os desejos do nosso coração

domingo, 4 de março de 2012 JESUS C. 'FONTE DE ÁGUA VIVA'

“Põe tuas delícias no Senhor, e os desejos do teu coração ele atenderá.”Sl 36,4
Muitas vezes, quando lemos esse versículo do salmo, pensamos que ao colocarmos no Senhor a nossa alegria e gratidão, Ele vai atender nossos desejos e realizar nossos sonhos e, muitas vezes, Ele faz isso mesmo. Mas, o que esse versículo expressa é muito mais do que apenas isso. Não se trata aqui de nos alegrarmos no Senhor e depois fazer tudo o que queremos, é muito mais bonito e mais profundo do que isso. Se nós colocarmos nossas delícias no Senhor, se fizermos Dele a alegria da nossa vida, então Ele mudará o nosso coração para que os nossos desejos se tornem os Dele. Em outras palavras, Ele colocará seus desejos em nosso coração. Nós precisamos disso na nossa vida, pois os nossos desejos, às vezes, são vãos, são gerados pelo pecado em nós ou são limitados e pequenos.
Os desejos do Senhor para a nossa vida são perfeitos, porque fazem parte do seu plano de amor para nós. Eles são infinitamente superiores e mais bonitos do que tudo o que podemos imaginar, como nos diz a passagem em Isaías 55, 8-9: Pois meus pensamentos não são os vossos, e vosso modo de agir não é o meu, diz o Senhor; mas tanto quanto o céu domina a terra, tanto é superior à vossa a minha conduta e meus pensamentos ultrapassam os vossos.
Li, certa vez, um testemunho bonito de David Mangan sobre esse versículo bíblico. Ele é um dos que estavam em Duquesne naquele fim de semana do início da Renovação Carismática e até hoje ele continua cheio do Espírito, frequentando Grupo de Oração, pregando a Palavra de Deus e dando bom testemunho. David disse que esse versículo significa muito para sua vida pois enquanto ele se deliciava com o Senhor, buscando fazer sua vontade,  se apaixonou por aquela que hoje é sua esposa. Então, conforme sua compreensão, o desejo, o amor que começou a sentir por ela foi colocado no seu coração pelo Senhor. Por isso, ele mandou gravar esse versículo nas suas alianças, para nunca se esquecer de quem sua esposa é para ele: desejo de Deus colocado no seu coração.
Que possa ser assim também conosco. Coloquemos todo o nosso amor, o nosso louvor, a nossa confiança no Senhor, passando todos os dias um tempo em oração com Ele, deliciando-nos na sua presença e deixemos que Ele vá colocando os seus desejos no nosso coração e teremos assim a nossa vida grandemente abençoada.

Maria Beatriz Spier Vargas
Secretária-geral do Conselho Nacional da RCCBRASIL

Compromissados com a vida

JESUS C. 'FONTE DE ÁGUA VIVA'

O compromisso com a vida é uma das bandeiras levantadas pela Igreja Católica e abraçada com ardor pelo nosso Movimento. Neste tempo em que somos chamados pelos Bispos do Brasil a refletirmos sobre a saúde pública no nosso país, o Portal RCCBRASIL traz um artigo da Revista Renovação nº 72 que fala sobre este assunto: compromissados com a vida!

A coleta de um milhão de assinaturas pela vida, contra a legalização do aborto no Brasil, foi concluída para ser encaminhada ao Congresso Nacional, mostrando a vontade popular em prol da vida desde a sua concepção no ventre materno.
Os carismáticos empenharam-se, em cada canto do País, coletando assinaturas nos Grupos de Oração, nos Encontros de Oração e Formação, nos Seminários de Vida no Espírito Santo, nos Congressos Diocesanos, Estaduais e Nacionais da Renovação Carismática Católica. Trabalho de formiguinhas, que exigiu de cada colaborador muita perseverança e entusiasmo, não se curvando perante as dificuldades e questionamentos surgidos.
Foi a primeira manifestação popular coordenada pelo Movimento. Percebemos que não foi fácil a sua conclusão, mas verificamos, em nosso povo, a capacidade de mobilização tanto pela vida, como por outros direitos da sociedade brasileira que estão ameaçados. Por isso, precisamos efetivar este trabalho levando ao conhecimento dos deputados federais e senadores a vontade da coletividade, para que não sejam impostas ao povo ideologias partidárias, leis iníquas ou interesses de corporações, em um país com dimensão continental, em que muitos eleitores têm educação alicerçada em princípios cristãos.
Em um país democrático, a vontade do povo deve prevalecer
A luta deve prosseguir, pois a vida continua sendo ameaçada. Leis querem restringir a sociedade de suas obrigações por um meio ambiente sustentável e equilibrado para as gerações presentes e futuras. Algumas minorias fazem muito barulho para se regulamentar iniquidades, impondo à sociedade brasileira antivalores que destroem a família. Os idosos são desvalorizados; abandonando-os em asilos se despreza toda a experiência adquirida por eles. Os portadores de deficiências não têm seus direitos respeitados pela sociedade, tendo em vista que as leis não são implementadas e a maioria dos cidadãos age como se fossem ilesos a situações idênticas por acidentes ou enfermidades. A política deixa de investir no bem comum, defendendo interesses corporativos em detrimento da vida no planeta.
A vida é ameaçada cotidianamente com leis de trânsito não cumpridas pelos cidadãos, com o patrimônio público dilacerado pela corrupção, com orçamentos exíguos em prol da saúde e da educação da população brasileira, com profissionais da saúde impossibilitados de trabalhar dignamente por falta de condições mínimas, o que gera mortes prematuras de pessoas em filas nos hospitais aguardando atendimento. A maioria da população não tem acesso à escola pública de qualidade, sendo privada de ingressar na universidade, vivendo do subemprego, sem direitos garantidos, tornando-se massa de manobra dos poderosos, sem voz e sem vez.
Portanto, apenas iniciamos nosso povo na ação democrática, ensaiando-o para novas manifestações populares, visando demonstrar ao Poder Público que este está a serviço do povo naquilo que ele precisa e não no que os dirigentes imaginam necessitar. Com a manifestação do povo, o Governo tem maior capacidade de servi-lo, aplicando verbas públicas no que realmente é interesse da coletividade. Porém, é bom frisar que nossas manifestações públicas devem ser sempre pacíficas e permeadas pelo amor a Deus e ao próximo, sem afrontas e agressões, para que realmente tenhamos coerência entre a fé que professamos e a fé vivenciada em nossas atitudes do dia-a-dia.
Encontremos em nossa espiritualidade pentecostal – Cultura de Pentecostes - o equilíbrio entre o intimismo e o ativismo para que tenhamos os subsídios necessários para o exercício de uma cidadania pacífica e consciente dos direitos e deveres garantidos pela Constituição Brasileira.
Marizete Martins Nunes do Nascimento

Presidente da Associação Servos de Deus em Goiânia-GO
Membro do Ministério de Promoção Humana da RCCBRASIL

Campanha da Fraternidade: um convite ao pastoreio

JESUS C. 'FONTE DE ÁGUA VIVA'

Nesta quaresma, somos convidados a vivenciar o tema do ano da RCC “Apascenta as minhas ovelhas” de forma bem concreta. Aproveitando as motivações da Campanha da Fraternidade, que tem como tema Fraternidade e Saúde Pública, e da mensagem quaresmal do papa Bento XVI, que incentiva o cuidado entre as pessoas, nosso Movimento sugere de sejam desenvolvidas ações de pastoreio junto aos doentes.
 
Como você pode participar?
Convide os servos do seu Grupo de Oração para, juntos, pastorearem os irmãos que padecem de enfermidades, visitando-os nos hospitais, lares, asilos e casas de recuperação, evangelizando e levando o amor de Deus.

Orientações
O coordenador nacional do Ministério de Oração por Cura e Libertação, Onazir Conceição, dá alguma orientações importantes para o desenvolvimento dessa atividade. “Ao chegar ao local a ser visitado, deve-se observar as normas vigentes. Devido à fragilidade da pessoa enferma, a visita deve ser breve e na ocasião pode ser feito leitura da Palavra de Deus e orações. A referida visita não se caracteriza como sendo necessariamente um momento de ‘cura e libertação’, mas um acolhimento com amor”, esclarece ele.

Que os milhares de Grupos de Oração do Brasil possam ser sinal do acolhimento e do amor do Bom Pastor também para aqueles que estão enfermos.