A presença de Cristo na vida da sua Igreja não se realiza de modo simbólico, mas de uma maneira muito mais íntima que se possa imaginar. Existe, de fato, uma relação profunda que é expressa particularmente pela união esponsal. Ele quis uni-la a si por meio de uma aliança indissolúvel e, mesmo que não esteja presente fisicamente no meio de nós, Ele está de forma sacramental e esponsal no seu corpo místico: a Igreja, sua esposa.
No Antigo Testamento, vemos Deus revelar-se de modo progressivo. Essa revelação conhece várias etapas. Em alguns profetas, e, de modo particular em Oseias, a aliança conhece uma etapa fundamental, pois a relação de Deus com o seu povo passa a ser compreendida como um “pacto matrimonial”. Deste modo, Deus, que já tinha manifestado de várias formas o seu amor, inclusive como amor materno, agora, apresenta-se como Esposo para manifestar de um modo mais profundo o seu amor e eleição.
Essa imagem esponsal nos revela que Deus é o Esposo fiel: “Desposar-te-ei novamente para sempre, desposar-te-ei conforme a justiça e o direito, com misericórdia e amor. Desposar-te-ei com fidelidade, e tu conhecerás o Senhor” (cf. Os 2,21-22). Essa é uma escolha de Deus diante do povo que muitas vezes agia com infidelidade.
Embora a Aliança, muitas vezes, seja violada por parte do povo, Deus nunca desiste. Assim, prepara o seu povo para um “pacto esponsal”, o qual encontra o seu ápice na união esponsal de Cristo com a Igreja – novo Israel – adquirido pelo seu sacrifício na Cruz.
Santo Ambrósio afirmava: “Da mesma forma que Eva foi tirada do lado de Adão adormecido, assim, a Igreja nasceu do coração traspassado de Cristo morto na Cruz”. A Igreja nasce do Coração traspassado do Cordeiro Pascal que a amou e, por ela, entregou-se (cf. Ef 5,25). A oferta de Cristo na cruz é esponsal. Ele entrega a si mesmo de modo inaudito. Podemos constatar que, entre Cristo e a Igreja, há uma união esponsal que a torna uma com o Esposo, e essa união é indestrutível, pois nem mesmo as fraquezas da Igreja podem anular esse amor esponsal. É o Esposo divino que lhe assegura o seu amor e a sua graça constantemente, tornando-a bela e sem mancha, pois não há pecado, fraqueza ou miséria que Ele não vença e purifique pelo poder do seu sacrifício.
No Novo Testamento, Jesus é claramente apresentado por João Batista como o Esposo, aquele que marca a conclusão de um tempo, ou seja, a Antiga Aliança e o início da Nova e Eterna Aliança realizada pelo sangue do Cordeiro. É a voz do amigo do esposo que o apresenta sem hesitação como o Cordeiro e Esposo. Torna-se mais belo ainda vê o próprio Jesus atribuir a si mesmo o título de Esposo (cf. Mc 2,19). Nele toda profecia a esse respeito encontra o seu real e pleno cumprimento, pois Ele é o Esposo, que celebra as núpcias com a sua amada esposa.
Podemos afirmar que a Igreja, como Corpo místico de Cristo, revela-nos a sua plena comunhão com Ele e, como esposa de Cristo, faz-nos contemplar a sua relação íntima com Cristo. Há uma união misteriosa e real entre Jesus Cristo e a sua Igreja, de tal modo que essa esposa é um mistério, pois, assim como o seu Esposo é homem e Deus, assim a esposa assemelha-se a Ele de forma humana e divina.
Nesta união esponsal, a Igreja, realidade nova, nascida do Sacrifício do Cordeiro, recebe tudo do seu esposo, pois é própria do amor verdadeiro a comunhão, seja do coração, seja da própria vida. Portanto, a ela está destinado o vinho novo do Esposo, e, por isso, ela é santificada por Ele. A Igreja, a bem amada, vive aqui na terra essa realidade, mas se prepara em meio a tribulações, sofrimentos e alegrias, na espera pelo encontro final com Ele e,cheia de saudade e de bem-aventurada esperança, clama: “Vinde, Senhor Jesus!” (cf. Ap 22,20).
No capítulo 17 do Evangelho de João, Ele pede ao Pai que a sua Esposa seja uma com Ele assim como Ele é um com o Pai. Portanto, Ele está unido de tal modo à Igreja, que não podemos pensar nele e, ao mesmo tempo, excluí-la e, muito menos, desejar o que muitos pretendem: “sim” a Cristo e “não” a Igreja. “Não pode ter Deus por Pai quem não tem a Igreja por mãe”, afirmava São Cipriano.
Padre Rômulo dos Anjos Silva
Missionário da Comunidade Católica Shalom
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