Na sociedade, há um lugar privilegiado, especialmente seguro,
refúgio para todos os seus membros: a família, “santuário da vida”,
“igreja doméstica”. Na família, há uma pessoa especial, a mãe, geradora
da vida, objeto especial do nosso amor, pois é aquela da qual nascemos.
E na mãe, há um lugar “sagrado”, o útero materno, sacrário onde a vida é gerada.
Assim, no santuário da vida, a família, está esse sacrário da vida,
o útero materno, lugar como que sagrado, protegido e seguro. O próprio
Deus, quando enviou o seu Filho ao mundo para habitar entre nós, o
aconchegou em um útero materno, o da Santíssima Virgem Maria, no qual o
Verbo se fez carne e começou a ser um de nós. Por isso dizemos a Maria
Santíssima: “bendito é o fruto do vosso ventre”, repetindo a saudação de
Isabel (Lc 1, 42).Chamava, o Papa São Pio X, de monstruosa e detestável
iniquidade, própria do tempo em que vivemos, a pretensão do homem se
colocar no lugar de Deus. Foi a tentação dos nossos primeiros pais. E
vejamos os absurdos consequentes dessa pretensão. Probo ex absurdo!
No caso do aborto provocado, quando uma vida humana em gestação é
assassinada, sob qualquer pretexto, é no útero materno que tal crime
acontece, portanto no lugar mais sagrado do mundo, e, deveria ser, no
lugar mais protegido por todas as leis do mundo.
Se uma criança já está fora do útero materno, após seu nascimento,
não importando o tempo de sua gestação, até bem antes dos nove meses
normais, ela é protegida por lei, em qualquer país civilizado, e seu
assassinato é por todos considerado um crime hediondo. Todos condenam o
infanticídio, seja por que pretexto for. Eu já tive que realizar batismo
de urgência em berçários de hospitais e pude ver os cuidados e proteção
com que cercam os bebês recém-nascidos, com toda assepsia exigida, para
que não sejam contaminados e corram risco de vida.
Mas se a criança ainda está no útero materno, a proteção não é tão
segura e ela não é tão protegida pela lei, dos homens, é claro, variável
segundo a determinação dos homens que fazem as leis ou as interpretam.
Eles assim, colocando-se no lugar de Deus, pretendem determinar até
quando e onde a vida deve ser protegida ou não, até quando vale a pena
ser vivida ou não.
Se uma criança, produto de um estupro, nasceu, mata-la é
infanticídio. Mas no útero materno, em certos países, pode. Se um bebê
“anencéfalo” nasceu, está nos braços da mãe ou no berçário, ainda que
dure poucas horas, dias, ou mais como já aconteceu, mata-lo seria crime
hediondo. Mas, se ainda está no útero materno, pode ser morto, sem
problemas. Daí se chega ao absurdo, em países onde o aborto é permitido
até aos nove meses, de, a criança estando para nascer, mas não é
desejada, o médico perfurar o seu crâneo e mata-la antes de retira-la,
pois assim ele é protegido pela lei, caso contrário, alguns minutos
depois, ele seria um criminoso.
Assim, o útero materno, ao invés de ser um lugar seguro, tornou-se,
por vontade dos homens, um lugar perigoso e arriscado. Fora dele se
estaria seguro. Nele, corre-se o risco de ser assassinado sem maiores
problemas. É a lógica dos homens, que pensam ser Deus.
Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal
São João Maria Vianney
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