Conheça São João da Cruz, o "doutor espiritual"

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011 Diego Tales


Conheçamos mais um dos baluartes da gloriosa Ordem Carmelita Descalça: seu fundador, São João da Cruz. Ele nasceu em 1542, talvez no dia 24 de junho, em Fontiveros, província de Ávila, na Espanha. Seus pais se chamavam Gonzalo de Yepes e Catalina Alvarez. Gonzalo pertencia a uma família de posses da cidade de Toledo. Por ter-se casado com uma jovem de classe “inferior” foi deserdado por seus pais e tornou-se tecelão de seda. Em 1548, a família muda-se para Arévalo.

Em 1551 transfere-se para Medina del Campo, onde o futuro reformador do Carmelo estuda numa escola destinada a crianças pobres. Por suas aptidões, torna-se empregado do diretor do Hospital de Medina del Campo. Entre 1559 a 1563 estuda Humanidades com os Jesuítas. Ingressou na Ordem dos Carmelitas aos vinte e um anos de idade, em 1563, quando recebe o nome de Frei João de São Matias, em Medina del Campo. Pensa em tornar-se irmão leigo, mas seus superiores não o permitiram. Entre 1564 e 1568 faz sua profissão religiosa e estuda em Salamanca. Tendo concluído com êxito seus estudos teológicos, em 1567 ordena-se sacerdote e celebra sua Primeira Missa.
Infelizmente, ficou muito desiludido pelo relaxamento da vida monástica em que viviam os conventos carmelitas. Decepcionado, tenta passar para a Ordem dos Cartuxos, ordem muito austera, na qual poderia viver a severidade de vida religiosa à que se sentia chamado. Em setembro de 1567 encontra-se com Santa Teresa, que lhe fala sobre o projeto de estender a Reforma da Ordem Carmelita também aos padres. O jovem de apenas vinte e cinco anos de idade aceitou o desafio.

Trocou o nome para João da Cruz. No dia 28 de novembro de 1568, juntamente com Frei Antônio de Jesús Heredia, inicia a Reforma. O desejo de voltar à mística religiosidade do deserto custou ao santo fundador maus tratos físicos e difamações. Em 1577 foi preso por oito meses no cárcere de Toledo. Nessas trevas exteriores acendeu-se-lhe a chama de sua poesia espiritual. "Padecer e depois morrer" era o lema do autor da "Noite Escura da alma", da "Subida do monte Carmelo", do "Cântico Espiritual" e da "Chama de amor viva".
A doutrina de João da Cruz é plenamente fiel à antiga tradição: o objetivo do homem na terra é alcançar “Perfeição da Caridade e elevar-se à dignidade de filho de Deus pelo amor”; a contemplação não é um fim em si mesma, mas deve conduzir ao amor e à união com Deus pelo amor e, por último, deve levar à experiência dessa união à qual tudo se ordena”. “Não há trabalho melhor nem mais necessário que o amor”, disse o Santo. “Fomos feitos para o amor”. “O único instrumento do qual Deus se serve é o amor”. “Assim como o Pai e o Filho estão unidos pelo amor, assim o amor é o laço da união da alma com Deus”.
O amor leva às alturas da contemplação, mas como o amor é produto da fé, que é a única ponte que pode salvar o abismo que separa a nossa inteligência do infinito de Deus, a fé ardente e vívida é o princípio da experiência mística. João da Cruz costuma pedir a Deus três coisas: que não deixasse passar um só dia de sua vida sem enviar-lhe sofrimentos, que não o deixasse morrer ocupando o cargo de superior e que lhe permitisse morrer humilhado e desprezado.
Faleceu no convento de Ubeda, aos quarenta e nove anos, à meia-noite do dia 14 de dezembro de 1591, após três meses de sofrimentos atrozes. Seu corpo foi trasladado para Segovia em maio de 1593. A primeira edição de suas obras deu-se em Alcalá, em 1618. No dia 25 de janeiro de 1675 foi beatificado por Clemente X. Foi canonizado em 27 de dezembro de 1726 e declarado Doutor da Igreja em 1926 por Pio XI . Em 1952 foi proclamado "Patrono dos Poetas Espanhóis".
Talvez a mais bela e completa descrição física e espiritual do Santo Fundador tenha sido feita por Frei Eliseu dos Mártires que com ele conviveu em Baeza: "Homem de estatura mediana, de rosto sério e venerável. Um pouco moreno e de boa fisionomia. Seu trato era muito agradável e sua conversa bastante espiritual era muito proveitosa para os que o ouviam. Todos os que o procuravam saíam espiritualizados e atraídos à virtude.

Foi amigo do recolhimento e falava pouco. Quando repreendia como superior, que o foi muitas vezes, agia com doce severidade, exortando com amor paternal.." Santa Teresa de Jesus o considerava "uma das almas mais puras que Deus tem em sua Igreja. Nosso Senhor lhe infundiu grandes riquezas da sabedoria celestial. Mesmo pequeno ele é grande aos olhos de Deus. Não há frade que não fale bem dele, porque tem sido sua vida uma grande penitência".

Poucos homens falaram dos sublimes mistérios de Deus na alma e da alma em Deus como São João da Cruz. Santa Teresinha conheceu João da Cruz quando ainda vivia nos Buissonnets. Ela, em seus escritos, refere-se ao Santo Fundador cento e seis vezes, direta ou indiretamente, e confessa a forte influência que dele recebeu: "Ah, que luzes hauri nas obras de Nosso Pai São João da Cruz !... Com a idade de 17 a 18 anos, não tinha outro alimento espiritual... " (MA 83r).

Nascido em uma família pobre, trabalhou em diversas funções, entre elas a de artesão e ajudante num hospital. Nesse tempo ajudava aos pobres e freqüentava a escola dos jesuítas. Aos 21 anos ingressou na ordem dos Carmelitas em Medina e estava decepcionado com a rotina monástica descuidada.

Pensou em reformar a ordem. Foi quando conheceu Santa Teresa D Ávila que tinha igual visão. Ela estava em Medina para fundar um novo convento e procurava alguém da ala masculina de sua ordem que tivesse os mesmos anseios. E João aceitou o desafio e com apenas 25 anos de idade fundou o primeiro convento dos Carmelitas Descalços, em Durvelo, que depois expandiu-se para outras cidades.

Atendendo a um chamado de Teresa, João foi trabalhar com ela, em Ávila. Diante da recusa às autoridades de Medina que exigiam sua volta, foi preso durante nove meses, ocasião em que escreveu seus poemas místicos. Ao conquistar ao liberdade, fundou novos mosteiros. Com a colaboração de Santa Teresa D´Ávila, foi reformador da ordem Carmelitana, pessoas dedicadas realmente à pobreza e à oração. A ação de reformista custou-lhe intensas perseguições dentro da própria ordem.

Conhecido como "doutor espiritual é, com Santa Teresa, o máximo representante da escola mística espanhola e sua obra "Chama de Amor Viva", "Subida ao Monte Carmelo"- "Cântico Espiritual" constituem algumas das expressões mias eternas do pensamento místico universal. Até hoje é reeditada. Considerado como o maior poeta em língua castelhana e um dos quatro ou cinco gênios da poesia lírica. Com seu jeito reto de agir, rendia-lhe muitos adversários, que desejam expulsá-lo da Ordem. Após sua morte, João obteve a graça de ser reconhecido por seus opositores que reconheceram sua santidade.

Oração
Deus, nosso Pai, São João da Cruz viveu os mistérios da vossa morte e ressurreição. Ele fez a experiência do vosso amor e por vós foi provado na fé e no sofrimento. Mediante o trabalho interior, conseguiu descobrir os tesouros da vossa graça. A seu exemplo, fazei que cada um de nós progrida na vida espiritual e caminhe para vós.
 
Encontremos na vossa Palavra estímulo e consolação e, na comunhão com nossos irmãos, vos encontremos na partilha de todos os dons recebidos. Senhor, enviai-nos o vosso Espírito, o Espírito Santo que é "doador da vida", que é a água viva que jorra da fonte, Espírito de Amor e de liberdade, Espírito que nos concede a liberdade de filhos de Deus e irmãos em Jesus Cristo.
 
Espírito que nos convoca e nos reúne numa mesma família, povo de Deus a caminho do vosso Reino. São João da Cruz nos inspire o gosto pelas coisas do alto, e nos ensine a vos amar com todas as nossas forças e de todo o nosso coração. 
Fonte: Comunidade Shalom 

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