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Deus  é amor. Fomos criados por amor. O Pai, no seu amor infinito, em um ato  de doação de si, cria o homem, como filho, à sua Imagem e semelhança,  capaz de amar e de receber amor. Deus quer a relação de uns com os  outros. A comunhão com Deus faz o seu amor circular entre nós. 
A  nossa comunhão com os seres humanos e com as criaturas faz circular o  amor de Deus pelo mundo. Assim, tudo se vê envolvido no amor. A essência  de Deus nos move em sua força para a relação, para a aliança, para o  amor mútuo.
O  matrimônio foi instituído por Deus desde a criação do homem e da  mulher. Ele os criou para a comunhão, para a complementaridade e para  que, na diversidade, construíssem a unidade, tendo como referência a  própria Trindade, modelo de comunhão e unidade. Todas as culturas  exaltam, de alguma maneira, a grandeza do matrimônio!
Amor conjugal, sacramento do Deus Amor
Pela  união sacramental dos esposos, eles se tornam expressão do amor da  Trindade, amor de unidade, de comunhão e de oferta de si, da mesma forma  como Cristo amou e se ofertou a sua Igreja e por ela deu a vida. Por  meio dos cônjuges, Deus dilata sua família a cada dia. O Espírito Santo é  a fonte do amor e a força que faz crescer este amor entre os dois,  ampliando-se nos filhos que Deus lhes confiar, em vista da construção do  seu Reino, de amor e de paz.
O  Amor Trinitário se derrama sobre nós, suas criaturas amadas, em três  dimensões interligadas: o Amor Ágape (como o amor de uma mãe por seu  filho. O Pai que cuida do mundo, como uma mãe de seu filhinho); o Amor  Eros, associado à paixão de amor, ao deleite da união; e o Amor de  Phillia (de amizade), que está associado à aliança de amor. 
É  fundamental para a felicidade do casal a vivência dessas três dimensões  do Amor: a sadia sedução, a amizade recíproca forte e a doação de si ao  outro. A seguir, refletiremos sobre cada uma dessas dimensões.
Amor Eros 
É  força que me impulsiona ao outro e ao grande Outro por meio dos  sentidos. Assim, podemos experimentar este Amor por meio da beleza, na  natureza, na arte em suas diversas manifestações (como a música, a  pintura, etc.). É o amor Eros que atrai um ao outro, mas ele não sacia o  coração do homem. Está condenado à carência, à miséria, à infelicidade e  a estar sempre incompleto.
Com  a ajuda desse mediador, que é o Eros, podemos sair da pobreza para  chegar à riqueza, da ignorância para chegar ao conhecimento, do material  para chegar ao espiritual e à contemplação do Belo em si mesma. 
O  enamoramento é essa experiência onde há uma transformação radical da  sensibilidade, da mente, do coração. Duas pessoas, ao enamorarem-se,  tornam-se indispensáveis uma a outra. Quando o Eros consegue o seu  objetivo, tranquiliza-se, mas depois aborrece-se. Tem o que já não lhe  falta. É um poder que, em todo ser, tende e anseia à plenitude. Não só a  sexualidade está estreitamente vinculada ao Eros, também o está o  desejo de realidades espirituais sedutoras, como a beleza espiritual.  Graças ao Eros, o filósofo tem paixão pela sabedoria, e o místico tem  paixão por Deus (eros cognitivo – Paul Tillich teólogo).
Amor de Phillia (Amor de Amizade) 
É menos instintivo, não é uma paixão, não é um dever. É amor, é virtude, é desejo de presença, mas não é Eros.
É  agradável, útil e supõe generosidade e entrega. Consiste mais em amar  do que em ser amado. É celebrar uma presença, mas não é pedir, é dar  graças.
Amigo  é aquela pessoa que melhor nos conhece, com quem se pode contar, com  quem se partilha recordações, esperanças e temores, felicidades e  infelicidades. 
Onde  existe amizade autêntica, surgem outras virtudes espontaneamente. Supõe  a criação de espaços de “encontro”, de divertimento, nos quais  predomina o “nós”. Implica em cultivar: compreensão, adaptação aos  ritmos naturais do amigo, cordialidade e ternura, veneração pela  dignidade do amigo, perseverança e confiabilidade. Ela requer ser  cultivada. Existe uma arte a aprender. Pode ser uma escola de virtude  quando encaminhada para o bem do outro e que deve também, de alguma  forma, transbordar para os outros.
Eros  e Philia podem andar juntos, mas não se confundem. Eles se misturam  quase sempre, mas quando o Eros se vê satisfeito, desgasta-se e morre,  enquanto que o Philia se engrandece cada vez que se vê satisfeito. O  amor Eros, quando centralizado em si mesmo, é reducionista, limitando-se  à autossatisfação mútua, mas quando é ampliado para além de si, em  vista do Bem, ele gera realização, experiência de doação e unidade. O  Amor de Amizade também é limitado e alcança poucos (10 a 20 pessoas),  mas existe uma forma de amor mais universal e perfeita, que realiza e  plenifica – é o Amor Ágape.
Amor Ágape, para além do Eros e do Philia
É  o amor que possibilita a abrangência universal e incondicional e que  nos possibilita amar os inimigos, os que nos são indiferentes, os que  nos incomodam. É o amor perfeito de Deus, revelado em Jesus e por ele  provado na entrega total de si, por amor. É o amor do Pai que doa Seu  Filho unigênito para resgatar os filhos amados. É o amor do Espírito que  se aniquila para habitar em  nós. Foi o amor que moveu os profetas no  Antigo Testamento e os santos a perseverarem na fé, mesmo diante dos  inúmeros desafios. Foi o amor entre os discípulos que os fez amarem-se  até o extremo de estarem dispostos a dar a vida uns pelos outros. Deus  não cria servos, mas filhos livres, chamados à liberdade. 
O  Amor Ágape exerce a função de horizonte em relação ao amor Eros e  Philia. Impede que tanto um como o outro permaneçam prisioneiros de si  mesmos. Impulsiona-os a irem além de todo o espaço delimitado de um e de  outro. É este Amor, cuja fonte é Deus, que ama o homem e a Ele se dá,  dando-lhe a dignidade de filho, seduzindo-o e atraindo-o a si por meio  do amor em suas três dimensões: Eros, de Philia e de caridade.
Bento  XVI propõe a relação circular entre o amor Eros e Ágape: “Quanto mais  os dois encontrarem a justa unidade, embora em distintas dimensões  (entre amigos, entre casal, entre Criador e criatura), na única  realidade do amor, tanto mais se realiza a verdadeira natureza do amor  em geral”. Eros e Ágape não se encontram em dois planos distintos ou  contrapostos, representam duas atitudes e duas formas de amor  estreitamente correlacionadas entre si. O Eros, embora seja inicialmente  ambicioso, depois, à medida que se aproxima do outro, far-se-á cada vez  menos perguntas sobre si próprio, procurará sempre mais a felicidade do  outro, doar-se-á e desejará “existir para” o outro (Deus caritas est,  7). 
  Nesse  caminho, existe uma sadia tensão pela transcendência pessoal e dual em  direção a um “nós”. E, vivido em Deus, no seu amor, tende ao  crescimento, à comunhão de alma, de coração, de corpo, de bens, na  saúde, na doença, nas tristezaa, na alegria. O amor conjugal, portanto,  deve abarcar essas três dimensões (Eros, Phillia e Ágape), que,  interligadas e bem ordenadas, transformarão a família num oásis  transbordante de vida, em meio ao deserto do mundo sedento de amor  autêntico. 
Laura Martins, Assistente Social, Psicopedagoga
 Missionária da Comunidade Shalom  
quinta-feira, 21 de julho de 2011
Diego Tales




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