Jesus deixou patente o poder da prece: “Tudo o que pedirdes na oração, crede que o recebestes e vos será dado” (Mc 11,14). Há, evidentemente, condições para que isto aconteça. Como ressaltam todos os grandes teólogos, o que se solicita a Deus não deve prejudicar a salvação eterna pessoal e das pessoas pelas quais se ora. Quando, contudo, o que se implorou ao poder divino não está de acordo com tal fim, Ele, na sua sabedoria eterna, dá sempre algo muito melhor condizente a seu plano salvador.
Como o Mestre divino insistiu em tantas outras passagens do Evangelho, é por meio da oração, e de nenhum outro modo sem ela, que se conseguem de Deus as graças necessárias para o que se precisa para o corpo e para a alma. Para isto, a oração deve ter um aspecto purgativo, ou seja, levando à purificação interior como aconteceu com Davi, que legou aos pósteros o salmo 50. O Filho pródigo (Lc 15) e o publicano (Lc 18) se justificaram por meio de uma prece sincera e. É que a oração não só limpa a alma de qualquer falta, como a preserva de erros futuros. Além disto, a prece ilumina o coração como ocorreu com Moisés, com os Patriarcas e Profetas. Lembra São João Crisóstomo que “como o sol clarifica tudo, assim a oração é a luz da alma”. É que a prece une o fiel a seu Senhor e o metamorfoseia como aconteceu com os Apóstolos que, recebendo o Divino Espírito Santo, se transformaram em cristãos perfeitos (Atos 1). São Tiago dá este conselho: “Se algum de vós carece de sabedoria, peça-a a Deus que a dá generosamente a todos sem censura, e ser-lhe-á dada. Peça-a, porém, todas as vezes com fé, sem hesitação” (Tg 1,5-6). A prece torna o cristão familiar com Deus e faz dele um iluminado. A razão é simples: quem trata com o Sábio e o Santo por essência dele recebe saber e santidade. Aquele ora se adianta então nas virtudes e vence as dificuldades da natureza humana.
A prece, além de tudo isto, é a chave do céu, a arma poderosa contra as insídias do maligno, a armadura do soldado espiritual. É desta maneira que, ou meditando ou proferindo preces vocais, se imerge no oceano da sabedoria e do poderio do Todo-Poderoso. Santo Agostinho declarou que ele se comovia saboreando os hinos e cânticos, emocionado ao ouvir as vozes da Igreja, que tão bem soam aos ouvidos. É durante a vida toda que se deve cultivar o espírito de oração, inclusive pelo oferecimento freqüente de tudo que se faz e que deve ser realizado unicamente para a glória de Deus. Assim se percorrem as diferentes maneiras de comunicação da alma com Deus, caracterizadas pela maior ou menor simplicidade do pensamento e do afeto. Todos os batizados podem e devem usufruir dos talentos da oração, ou seja, das diferentes graças que o Espírito Santo concede a cada um, para que ela possa viver com Ele de modo habitual. É o que lembrou São Tiago: “Toda a dádiva boa e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das Luzes, no qual não há variação nem sombra de mudança” (Tg 1,16). Para serem captadas as inspirações vindas do Senhor é preciso, contudo, uma devoção sólida que flui do coração que quer continuamente aderir à vontade divina, reconhecendo, porém, a grandeza de Deus e pequeneza humana, o que é fundamental, segundo Santo Tomás de Aquino em qualquer tipo de oração. Eis aí uma condição essencial para a eficácia da prece, de tal modo que o Senhor conceda ao orante o que ele pede. É o efeito sublime da consideração da própria indigência espiritual e da misericórdia e largueza divinas. O orgulhoso quer manipular a Deus e se julga digno de todos os favores celestes. É deste modo que o cristão vence os estorvos e obstáculos que o Inimigo multiplica para impedir o seguidor de Jesus trilhar os caminhos da oração.
Mesmo os grandes santos tiveram que lutar contra as inquietudes ou agitações de ânimo que roubam a tranquilidade necessária para o trato com Deus. Diz São João da Cruz que “o bem espiritual não se imprime senão na alma moderada e posta em paz”. Segundo São Bernardo a causa da inquietude é sempre a falta de total confiança na paternal providência de Deus. É necessário também vencer a divagação da fantasia que impede que o entendimento se fixe naquilo que se diz ou se medita. Quando, porém, alguém coloca dentro do Coração de Jesus suas preocupações, fica menos sujeito às distrações e sua prece se torna ainda mais poderosa.
Con. José Geraldo Vidigal
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